TODO O
PLANO PARA O ASSASSÍNIO DO DR. FRANCISCO SÁ CARNEIRO E DO ENGº. ADELINO AMARO DA COSTA
(3ª PARTE)
Tenho
depois reuniões em Lisboa, com o agente da CIA, Frank Sturgies, que conheço
pela primeira vez.
Frank Sturgies é uma pessoa de aspecto sinistro e com grande
frieza, e é organizador das forças anti-castristas, sediadas em Miami, e é elo
de ligação com os "contra" da Nicarágua.
Frank Sturgies refere-me
então, que está em
marcha um plano para afastar, definitivamente, (entenda-se eliminar) uma pessoa
importante, ligada ao Governo Português de então, sem dizer contudo ainda
nomes.
Algum
tempo depois, possívelmente em Setembro ou Outubro de 1980, jogo ténis com Frank
Carlucci quase toda a tarde, na antiga residência do embaixador dos EUA, na
Lapa.
Janto
depois com ele, onde Frank Cartucci refere novamente que existem problemas em Portugal
para a venda e transporte de armas, e que Francisco Sá Carneiro não era uma
pessoa querida dos EUA.
Depois
já na sobremesa, juntam-se a nós o Gen. Diogo Neto, o Cor. Vinhas, o Cor.
Robocho Vaz e Paulo Cardoso, onde se refere novamente a necessidade de se
afastarem alguns obstáculos existentes ao negócio de armas.
Todos estes elementos
referem a Frank Caducci que eu sou a pessoa indicada para a preparação e
implementação desta operação.
Em
Outubro de 1980, num juntar no Hotel Sharaton onde participo eu, Frank Sturgies
(CIA), Vilfred Navarro (CIA), o General Diogo Neto e o Coronel Vinhas (já
falecidos), onde se refere que há entraves ao tráfico de armas que têm de ser
removidos.
Depois
há um outro jantar também no Hotel Sharaton, onde participam, entre outros, eu
e o Cor. Oliver North, onde este diz claramentete que "é preciso limar
algumas arestas" e "se houver necessidade de se tirar aguém do
caminho, tira-se", dando portanto a entender que haverá que eliminar
pessoas que criam problemas aos negócios de venda de armas.
Oliver North diz-me também que está a ter problemas com a sua
própria organização, e que teme que o possam querer afastar e "deixar
cair", o que acabou por acontecer.
Há
também Portugueses que estavam a beneficiar com o tráfico de armas, como o
Major Canto e Castro, o Gen. Pezarat Correia, Franco Charais e o empresário
Zoio.
Sabe-se
também já nessa altura que Adelino Amaro da Costa estava a tentar acabar com o
tráfico de armas, a investigar o fundo de desenvolvimento do Ultramar, e a
tentar acabar acabar com lobbies instalados.
Afastar
essas duas pessoas pela via política era impossível, pois a AD tinha ganho as
eleições.
Restava portanto a via de um atentado.
Passados
alguns dias, recebo um telefonema do Major Canto e Castro (pertencente ao
conselho da revolução), que eu já conhecia de Angola, pedindo para eu me encontrar
com ele no Hotel Altis.
Nessa
reunião está também Frank Sturgies, e fala-se pela primeira vez em
"atentado", sem se referirem ainda quem é o alvo.
Referem que contam
comigo para esta operação.
O Major
Canto e Castro diz que é preciso recrutar alguém capaz de realizar esta
operação.
Tenho
depois uma segunda reunião no Hotel Altis com Frank Sturgies e Philip Snell,
onde Frank Sturgies me encarrega de preparar e arranjar alguns operacionais
para uma possível operação dentro de pouco tempo, possívelmente dentro de 2 ou
3 meses.
Perguntam-me se já recrutei a pessoa certa para realizar este
atentado, e se eu conheço algum perito na fabricação de bombas e em armas de
fogo.
Respondo que em Espanha arranjaria alguém da ETA para vir cá fazer o
atentado, se tal fosse necessário.
Quem paga a operação e a preparação do
atentado é a CIA e o Major Canto e Castro.
Canto e
Castro colabora na altura com os serviços Secretos Franceses, para onde entrou
através do sogro na época.
O sogro era de nacionalidade Belga, que trabalhava
para a SDEC, os serviços de inteligência franceses, em 1979 e 1980.
Canto e
Castro casou com uma das suas filhas, quando estava em Luanda, em Angola, ao
serviço da Força Aérea Portuguesa.
Em
Luanda, Canto e Castro vivia perto de mim.
Tendo
que organizar esta operação, falo então com José Esteves e mais tarde com Lee
Rodrigues (que na altura ainda não conhecia).
O elo de
ligação de Lee Rodrigues em Lisboa era Evo Fernandes, que estava ligado à
resistância moçambicana, a Renamo.
Falo nessa altura também com duas pessoas
ligadas à ETA militar, para caso do atentado ser realizado através de armas de
fogo.
Depois,
noutro jantar em casa de Frank Carlucci, na Lapa, na mansarda, no último andar,
onde jantamos os dois sozinhos, Frank Carlucci diz abertamente e pela primeira
vez, o que eu tinha de fazer, qual era a operação em curso e que esta visava
Adelino Amaro da Costa, que estava a dificultar o transporte e venda de armas a
partir de Portugal ou que passavam em Portugal, e que havia luz verde dada por
Henry Kissinger e Oliver North.
Cumprimento
ambos, referindo que sou "o homem deles em Lisboa".
Três
semanas antes dos atentado, Canto e Castro e Frank Sturgies, referem pela primeira
vez, que o alvo do atentado é Adelino Amaro da Costa.
O Major
Canto e Castro afirma que irá viajar para Londres.
Frank
Sturgies pede-me que obtenha um cartão de acesso ao aeroporto para um tal Lee
Rodrigues, que é referido como sendo a pessoa que levará e colocará a bomba no
avião.
Recebo
depois um telefonema de Canto e Castro, referindo que está em Londres e para eu
ir ter lá com ele.
Refere-me
que o meu bilhete está numa agência de viagens situada na Av. da Republica ,
junto à pastelaria Ceuta.
Chegado a Londres fico no Hotel Grosvenor, ao pé de
Victoria Station.
Canto e Castro vai buscar-me e leva-me a uma casa perto do
Hotel, onde me mostra pela primeira vez, o material, incluindo explosivos, que
servirão para confeccionar a "bomba" nesta operação.
Essa casa em
Londres, era ao mesmo tempo residência e consultório de um dentista indiano,
amigo de Canto e Castro, Canto e Castro refere-me que esse material será levado
para Portugal pela sua companheira Juanita Valderrama.
O Major Canto e Castro
pede-me então que vá ao Hotel Altis recolher o material.
Vou então ao Hotel
acompanhado de José esteves, e recebemos uma mala e uma carta da senhora
Juanita, José Esteves prepara então uma bomba destinada a um avião, com esses
materiais, com a ajuda de Carlos Miranda.
O Major
Canto e Castro volta depois de Londres, encontra-se comigo, e digo-lhe que a
bomba está montada.
Lee
Rodrigues é-me apresentado pelo Major Canto e Castro.
Alguns
dias depois Lee Rodrigues telefona-me e encontramo-nos para jantar no
restaurante Galeto, junto ao Saldanha, juntamente com Canto e Castro, onde
aparece também Evo Fernandes, que era o contacto de Lee Rodrigues em Lisboa.
Fora Evo
Fernandes que apresentara Lee Rodrigues a Canto e Castro.
Lee Rodrigues era
moçambicano e tinha ligações à Renamo.
Nesse
jantar alinham-se pormenores sobre o atentado.
Canto e
Castro refere contudo nesse jantar que o atentado será realizado em Angola.
Perante
esta afirmação, pergunto se ele está a falar a sério ou a brincar, e se me acha
com “cara de palhaço"- fazendo intenção de me levantar.
Refiro
que, através de Frank Carlucci, já estava a par de tudo.
Lee
Rodrigues pede calma, referindo depois Canto e Castro que desconhecia que eu já
estava a par de tudo, mas que sendo assim nada mais havia a esconder.
Possivelmente
em Novembro, é-me solicitado por Philip Snell que participe numa reunião em
Cascais, num iate junto á antiga marina (na altura não existia a actual
marina).
Vou e levo
comigo José Esteves.
Essa reunião tem lugar entre as 20 e as 23 horas, nela participando
Philips Snell, Oliver North, Frank Sturgies, Sydral e Lee Rodrigues e mais cerca
de 2 ou 3 estrangeiros, que julgo serem americanos.
Nesta
reunião é referido que há que preparar com cuidado a operação que será para
breve, e falam-se de pormenores a ter em atenção.
É
referido também os cuidados que devem
ser realizados depois da operação, e o que
fazer se algo correr mal.
A língua
utilizada na reunião é o inglês.
José
Esteves recebeu então USD 200.000 pelo seu futuro trabalho.
Eu não
recebi nada pois já era pago normalmente pela CIA.
Eu nessa
altura recebia da CIA o equivalente a cinco mil US Dólares, dispondo também de
dois cartões de crédito Diner's Club e Visa Gold, ambos com plafonds de 10.000
US Dólares.
Lee
Rodrigues pede-me então que arranje um cartão para José Esteves entrar no
aeroporto.
Para
este efeito, obtenho um cartão forjado, na Mouraria, em Lisboa, numa tipografia
que hoje já não existe.
Lee Rodrigues
diz-me também que irá obter uma farda de piloto numa loja ao pé do Coliseu, na
Rua das Portas de Santo Antão.
A meu
pedido, João Pedro Dias, que era carteirista, arranja também um cartão para Lee
Rodrigues.
Este
cartão foi obtido por João Pedro Dias, roubando o cartão de Miguel Wahnon, que
era funcionário da TAP.
Apenas
foi necessário mudar-se a fotografia desse cartão, colocando a fotografia de
Lee Rodrigues.
José
Esteves prepara então na sua casa no Cacém, um engenho para o atentado.
Conta com a colaboração de outro operacional chamado Carlos Miranda, especialista em
explosivos, que é recrutado por mim, e que eu já conhecia de Angola, quando
Carlos Miranda era comandante da FNLA e depois CODECO em Portugal.
José
Esteves foi também um dos principais comandantes da FNLA, indo muitas vezes a
Kinshasa.
Depois
do artefacto estar pronto, vou novamente a Paris.
No Hotel
Ritz, à tarde, tenho um encontro com Oliver North, o cor. Wilkison e Philip
Snell, onde se refere que o alvo a abater era Adelino Amaro da Costa, Ministro
da Defesa.
Volto a
Portugal, cerca de 5 ou 6 dias antes do atentado.
É
marcado por Oliver North um jantar no hotel Sheraton.
Nesse
jantar aparece e participa um indivíduo que não conhecia e que me é apresentado
por Oliver North , chamado Penaguião.
Penaguião
afirma ser segurança pessoal de Sá Carneiro.
Oliver
North refere que Penaguião faz parte da segurança pessoal de Sá Carneiro e que
é o homem que conseguirá meter Sá Carneiro no Avião.
Penaguião
afirma, de forma fria e directa que Sá Carneiro também iria no avião,
"pois dessa forma matavam dois coelhos de uma cajadada!"
Afirma que
a sua eliminação era necessária, uma vez que Sá Carneiro era anti-americano, e apoiava incondicionalmente
Adelino Amaro da Costa na denúncia do tráfico de armas, e na descoberta do
chamado saco azul do Fundo de Defesa do Ultramar, pelo que tudo estava, desde o
início, preparado para incluir as duas pessoas.
Francisco Sá Carneiro e Adelino Amaro da
Costa.
Fico
muito receoso, pois só nesse momento fiquei a conhecer a inclusão de Sá Carneiro
no atentado.
Pergunto
a Penaguião como é que ele pode ter a certeza de que Sá Carneiro irá no avião,
ao que Penaguião responde de que eu não me preocupasse pois que ele, com
mais alguém, se encarregaria de colocar Sá Carneiro naquele avião naquele dia e
naquela hora, pois ele coordenava a segurança e a sua palavra era sempre
escutada.
No final
do jantar, juntam-se a nós três o Gen. Diogo Neto e o Cor. Vinhas.
Fico
estarrecido com esta nova informação sobre Sá Carneiro, e decido ir, nessa
mesma noite, à residência do embaixador dos EUA, na Lapa, onde estava Frank
Carlucci, a quem conto o que ouvi.
Frank
Carlucci responde que não me preocupasse, pois este plano já estava determinado
há muito tempo.
Disse-me
que o homem dos EUA era Mário Soares, e que Sá Carneiro, devido à sua maneira
de ser, teimoso e anti-americano, não servia os interesses estratégicos dos
EUA.
Mário
Soares seria o futuro apoio da política americana em Portugal, junto com outros
lideres do PSD e do PS.
Aceito
então esta situação, uma vez que Frank Carlucci já me havia dito antes que tudo
estava assegurado, inclusivamente se algo corresse mal, como a minha saída de
Portugal, a cobertura total para mim e para mais alguém que eu indicasse, e que
pudesse vir a estar em perigo.
Isto e a
usual “realpolitik" dos Estados Unidos, e suspeito que sempre será.
Três
dias antes do atentado há uma nova reunião, na Rua das Pretas no Palácio
Roquete, onde participam Canto e Castro, Farinha Simões, Lee Rodrigues, José Esteves
e Carlos Miranda
Carlos
Miranda colaborou na montagem do engenho explosivo com José Esteves, tendo ido
várias vezes a casa de José Esteves.
Nessa
reunião são acertados os últimos pormenores do atentado.
Nessa
reunião, Lee Rodrigues diz que ele está preparado para a operação e Canto e
Castro diz que o atentado será a 3 ou 4
de Dezembro.
Nessa
reunião é dito que o alvo é Adelino Amaro da Costa.
No dia
seguinte encontramo-nos com Canto e Castro no Hotel Sheraton, e vamos jantar ao
restaurante " O Polícia".
No dia 4
de Dezembro, telefono de um telefone no Areeiro, para o Sr. William Hasselberg,
na Embaixada dos EUA, para confirmar que o atentado é para realizar, tendo-me
este referido que sim.
Desse
modo, à tarde, José Esteves traz uma mala a minha casa, e vamos os dois para o
aeroporto.
Conduzo
José Esteves ao aeroporto, num BMW do José Esteves.
Já no
aeroporto, José Esteves e eu entramos no aeroporto, por uma porta lateral,
junto a um posto da Guarda Fiscal, utilizando o cartão forjado, anteriormente
referido.
Depois
José Esteves desloca-se e entrega a mala, com o engenho, a Lee Rodrigues, que
aparece com uma farda de piloto e é também visto por mim.
Depois
de cerca de 15 minutos, sai já sem a mala, e sai comigo do aeroporto.
Separamo-nos,
mas mais tarde José esteves encontra-se novamente comigo no cabeleireiro
Bacta, no centro comercial Alvalade.
Depois
José esteves aparece em minha casa com a companheira da época, de nome Gina, e
com um saco de roupa para lá ficar por precaução.
Ouvimos
depois o noticiário das 20 horas na televisão, e José Esteves fica muito
surpreendido, pois não sabia que Sá Carneiro também ia no avião.
(CONTINUA...)
Toda a gente sabia que tinha sido atentado. Forjado por quem ??? sabe-se agora. Um profissional a serio porta-se assim. Foi pena eram dois estadistas de ouro.. Lamentei toda a minha vida estas perdas de vidas humanas. Nunca esqueci.. obrigado
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