TODO O
PLANO PARA O ASSASSÍNIO DO DR. FRANCISCO SÁ CARNEIRO E DO ENGº ADELINO AMARO DA COSTA
(1ª PARTE)
Eu,
Fernando Farinha Simões, decidi finalmente, em 2011, contar toda a verdade sobre
Camarate.
No passado nunca contei toda a operação de Camarate, pois estando a
correr o processo judícial, poderia ser preso e condenado.
Também porque
durante 25 anos não podia falar, por estar obrigado ao sígilo por parte da CIA,
mas esta situação mudou agora, ao que acresce o facto da CIA me ter abandonado
completamente desde 1989.
Finalmente decidi falar por obrigação de consciência.
Fiz o
meu primeiro depoimento sobre Camarate, na Comissão de Inquérito Parlamentar,
em 1995.
Mais tarde prestei alguns depoimentos em que fui acrescentando factos
e informações.
Cheguei a prestar declarações para um programa da SIC,
organizado por Emílio Rangel, que não chegou contudo a ir para o ar.
Em todas
essas declarações públicas contei factos sobre o atentado de Camarate, que
nunca foram desmentidos, apesar dos nomes que citei e da gravidade dos factos que
referi.
Em todos esses relatos, eu desmenti a tese oficial do acidente,
defendida pela Polícia Judiciária e pela Procuradoria Geral da Republica.
Numa
tive dúvidas de que as Comissões de Inquérito Parlamentares estavam no caminho
certo, pois Camarate foi um atentado.
Devo também dizer que tendo eu falado de factos
sobre Camarate tão graves e do envolvimento de certas pessoas nesses factos, sempre
me surpreendeu que essas pessoas tenham preferido o silêncio.
Estão neste caso o
Tenente Coronel Lencastre Bernardo ou o Major Canto e Castro.
Se se sentissem
ofendidos pelas minhas declarações, teria sido lógico que tivessem reagido.
Quanto a mim, este seu silêncio só pode significar que, tendo noção do que
fizeram, consideraram que quanto menos se falar no assunto, melhor.
Estavamos ainda relativamente proximos dos acontecimentos e não
quis portanto revelar todos os pormenores, nem todas as pessoas envolvidas
nesta operação.
Contudo, após terem passado mais de 30 anos sobre os factos,
entendi que todos os portugueses tinham o direito de conhecer o que
verdadeiramente sucedeu em Camarate.
Não quero contudo deixar de referir que
hoje estou profundamente arrependido de ter participado nesta operação, não
apenas pelas pessoas que aí morreram, e cuja qualidade humana só mais tarde
tive ocasião de conhecer, como do prejuízo que constituiu, para o futuro do
país, o desaparecimento dessas pessoas.
Naquela altura contudo, Camarate era apenas
mais uma operação em que participava, pelo que não medi as consequências.
Peço
por isso desculpa aos familiares das vítimas, e aos Portugueses em geral, pelas
consequências da operação em que participei.
Gostaria
assim de voltar atrás no tempo, para explicar como acabei por me envolver nesta
operação.
Em 1974 conheci, na África do Sul, a agente dupla alemã, Uta Gerveck,
que trabalhava para a BND (Bundesnachristendienst) - Serviços de Inteligência
Alemães Ocidentais, e ao mesmo tempo para a Stassi.
A cobertura legal de Uta
Gerveck é feita através do conselho mundial das Igrejas (uma espécie de ONG), e
é através dessa fachada que viaja praticamente pelo Mundo todo, trabalhando ao
mesmo tempo para a BND e para a Stassi.
Fez um livro em alemão que me dedicou,
e que ainda tenho, sobre a luta de liberdade do PAIGC na Guiné Bissau.
O meu
trabalho com a Stassi veio contudo a verificar-se posteriormente, quando estava
já a trabalhar para a CIA.
A minha infiltração na Stassi dá-se por convite da
Uta Gerveck, em 1976, com a concordância da CIA, pois isso interessava-lhes
muito.
Úta
Gerveck apresenta-me, em 1978, em Berlim Leste, a Marcus Wolf, então Director
da Stassi.
Fui para esse efeito então clandestinamente a Berlim Leste, com um
passaporte espanhol, que me foi fornecido por Úta Gerveck.
0 meu trabalho de
infiltração na Stassi consistiu na elaboração de relatórios pormenorizados
acerta das “toupeiras" infiltradas na Alemanha Ocidental pela Stassi.
Que
actuavam nomeadamente junto de Helmut Khol, Helmut Schmidt e de Hans Jurgen
Wischewski.
Hans Jurgen Wischewski era o raponsável pelas relações e contactos
entre a Alemanha Ocidental e de Leste, sendo Presidente da Associação Alemã de
Coopenção e Desenvolvimento (ajuda ao terceiro Mundo), e também ia às reuniões
do Grupo Bilderberg.
Viabilizou também muitas operações clandestinas, nos anos
70 e 80, de ajuda a gupos de libertação, a partir da Alemanha Ocidental.
Estive
também na Academia da Stassi, várias vezes, em Postdan - Eiche.
Relativamente
ao relato dos factos, gostaria de começar por referir que tenho contactos, desde
1970, em Angola, com um agente da CIA, que é o jornalista e apresentador de televisão
Paulo Cardoso (já falecido).
Conheci Paulo Cardoso em Angola com quem trabalhei
na TVA - Televisão de Angola na altura.
Em 1975,
formei em Portugal, os CODECO com José Esteves, Vasco Montez, Carlos Miranda e
Jorge Gago (já falecido).
Esta organização pretendia, defender, em Portugal, se
necessário por via de guerrilha, os valores do Mundo Ocidental.
Falei
então durante algum tempo com Philip Snell.
O Paulo Cardoso estava então a
viver no Hotel Sheraton.
Passados poucos dias, Philip Snell, diz-me para ir levantar,
gratuitamente, um bilhete de avião, de Lisboa para Londres, a uma agência de
viagens na Av. De Ceuta, que trabalhava para a embaixada dos EUA.
Fui então a
uma reunião em Londres, onde encontrei um amigo antigo, Gary Van Dyk, da África
do Sul, que colaborava com a CIA.
Fui então entrevistado pelo chefe da estação
da CIA para a Europa, que se chamava John Logan.
Gary Van Dyk, defendeu nessa
reunião, a minha entrada para a CIA, dizendo que me conhecia bem de Angola, e
que eu trabalhava com eficiência.
Comecei então a trabalhar para a CIA, tendo
também para esse efeito pesado o facto de ter anteriormente colaborado com a
NISS - National Intelligence Security Service ( Agência Sul Africana de
Informações).
Gary Van Dyk era o antena, em Londres, do DONS - Department
Operational of National Security (Sul Africana).
Regressando a Lisboa,
trabalhei para a Embaixada dos EUA, em Lisboa entre 1975 e 1988, a tempo
inteiro.
Entre
1976 e 1977, durante cerca de um ano e meio vivi numa suite no Hotel Sheraton,
o que pode ser comprovado, tudo pago pela Embaixada dos EUA.
Conduzia então um
carro com matrícula diplomática, um Ford, que estacionava na garagem do Hotel.
Nesta suite viveu também a minha mulher, Elsa, já grávida da minha filha
Eliana.
O meu trabalho incluia recolha de informações /contra informações, informações
sobre tráfico de armas, de operações de combate ao tráfico de droga, informações
sobre terrorismo, recrutamento de informadores, etc.
Estas actividades incluem contactos
com serviços secretos de outros países, como a Stassi, a Mossad, e a
"Boss" (Sul Africana), depois NISS - National Information Secret
Service, depois DONS e actualmete SASS.
Era pago
em Portugal, recebendo cerca de USD 5.000 por mês.
Nestas actividades facilita
o facto de eu falar seis línguas.
Actuei utilizando vários nomes diferente, com
passaportes fornecidos pela Embaixada dos EUA em Lisboa.
Facilitava também o
facto de eu falar um dialecto angolano, o kimbundo.
A
Embaixada dos EUA tinha também uma casa de recuo na Quinta da Marinha, que me estava
entregue, e onde ficavam frequentemente agentes e militares americanos, que passavam
por Portugal.
Era a vivenda "Alpendrada".
A partir
de 1975, como referi, passei a trabalhar directamente para a CIA.
Contudo a
partir de l978, passei a trabalhar como agente encoberto, no chamado
"Office of Special Operations".
A que se chamava serviços
clandestinos, e que visavam observar um alvo, incluindo perseguir, conhecer e
eliminar o alvo, em qualquer país do mundo, excepto nos EUA.
Por pertencermos a
este Office, éramos obrigados a assinar uma clausula que se chamava
"plausible denial" que significa que se fossemos apanhados nestas operações com documentos de
identificação falsos, a situação seria por nossa conta e risco, e a CIA nada
teria a ver com a situação.
Nessa circunstância tinhamos o discurso preparado
para explicar o que estavamos a fazer, incluindo estarmos preparados para
aguentar a tortura.
Trabalhei
para o "Office of Special Operations ” até 1989, ano em que saí da CIA.
Estes
cartões eram emitidos no Brasil, em bancos estrangeiros sedeados no Brasil,
como o Citibank, o Bank of Boston ou o Bank of America.
Entre 1975 e 1989, portanto
durante cerca de 14 anos, gastei com estes cartões cerca de 10 milhões de USD,
em operações em diversos paises, nomeadamente pagando a informadores,
politicos, militares, homens de negócios, e também traficantes de armas e de drogas,
em ligação com a DEA (Drug Enforcement Agency).
Existiram outros valores
movimentados à parte, a partir de um saco
azul, “em cash”, valores esses postos á disposição pelo chefe da estação
da CIA, no local onde as operações eram realizadas.
Este saco azul servia para
pagar despesas como viagens, compras necessárias, etc.
Posso
referir que a operação de Camarate, que a seguir irei transcrever custou a
preços de 1980 entre 750.000 e 1 milhão de USD.
Só o Sr. José António dos Santos
Esteves recebeu 200.000 USD.
Estas despesas relacionadas com a operação de
Camarate, incluiram os pagamentos a diversas pessoas e participantes, como o
Sr. Lee Rodrigues, como seguidamente irei descrever.
Entre
1975 e 1988, participei em vários cursos e seminários em Langley, Virginia e
Quantico, pago pela CIA, sobre informação, desinformação, contra-informação.
terrorismo, contra-terrorismo, infiltrações encobertas, etc., etc.
(CONTINUA...)
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