*O Bar do Alcides EXIGE prisão imediata para Jorge
Silva Carvalho*
O ex-director do SIED Jorge Silva Carvalho “usou a maçonaria para um
projecto de ambição pessoal e conquista de poder”, disse ao PÚBLICO José Manuel
Anes, fundador e ex-Grão-Mestre da Grande Loja Regular de Portugal. Silva
Carvalho recusa responder a estas acusações.
Anes, que se apresenta como padrinho de Silva Carvalho no seio da
organização maçónica, acusa o ex-chefe dos Serviços de Informações Estratégicas
de Defesa de ter desenvolvido a loja Mozart em função desse objectivo,
convidando pessoas ligadas a vários sectores do poder político e económico e da
segurança.
“Ele tomou conta da loja Mozart”, uma célula já antiga da Grande Loja
Regular, mas que se encontrava adormecida. Tinha “as colunas abatidas”, como se
diz na linguagem maçónica. Silva Carvalho “levantou as colunas” da loja Mozart,
para, segundo Anes, a colocar ao serviço do seu projecto.
Convidou as pessoas
adequadas e pôs em funcionamento o seu plano “de ambição desmesurada”, sem
escrúpulos de “usar instituições do Estado em benefício dos seus interesses
pessoais e privados”, acrescentou Anes, referindo-se designadamente à
transmissão de informações confidenciais dos serviços secretos à empresa
Ongoing.
“Mas há outras coisas”, disse ainda o padrinho de Silva Carvalho,
sugerindo que haverá acções ilegais do ex-director do SIED por revelar.
Há cerca de seis anos, foi José Manuel Anes, professor universitário,
criminalista e presidente do Observatório de Segurança, Criminalidade
Organizada e Terrorismo (OSCOT), que convidou Jorge Silva Carvalho para a
Maçonaria.
“Ele pediu para ser convidado”, contou Anes que, na altura,
instaurou o processo de inquérito normal para o acesso de novos irmãos.
“Ele era uma pessoa séria, humilde e excelente profissional”, era a
impressão que Anes tinha de Carvalho, confirmada pelo inquérito elaborado por
dois irmãos designados para o efeito.
José Manuel Anes conhecia o candidato
“dos meios da defesa e segurança” e da revista Segurança e Defesa, a que ambos
pertenciam (e pertencem).
Segundo a tradição maçónica, o iniciado tem o dever de prestar
informações e pedir conselhos ao seu padrinho (que o convidou).
Mas Silva
Carvalho cedo deixou de cumprir essa obrigação.
“Pelo contrário”, diz Anes.
“Ele maltratou o padrinho, dentro e fora da Maçonaria, e começou a fazer o
contrário do que eu lhe dizia”.
Há cerca de três anos, segundo Anes, era já notório que havia “uma
evolução preocupante” na loja Mozart.
Tinha muitos mais elementos do que os
normais 20 ou 30 de uma loja maçónica, e fazia rodear as suas reuniões de um
“inabitual secretismo”.
“Há um princípio na Maçonaria segundo o qual os elementos de qualquer
loja podem assistir às reuniões de outras lojas. Isso não acontecia com a loja
Mozart.”
O próprio José Manuel Anes tentou fazer-se convidado para essas
reuniões, sem êxito.
E ainda menos foi convidado para os jantares e encontros
que se realizavam em restaurantes e hotéis depois das reuniões propriamente
ditas.
É nesses encontros mais informais, chamados Ágape, que se discutem
assuntos mais prosaicos, relacionados com a política e a economia concretas e
actuais.
Desconfiado dos verdadeiros propósitos desses encontros, José Manuel
Anes alertou para isso as autoridades maçónicas, nomeadamente o grão-mestre.
Mas nada foi feito.
“O assunto foi muito falado, mas não passou disso.
Eu não
avancei com uma queixa porque tive medo que isso fosse visto como um problema
pessoal.”
A má-língua e as rivalidades pessoais são frequentes na Maçonaria,
admite Anes.
Mas há também a justiça maçónica.
“Um caso como este deveria ter
sido investigado no seio da organização e, mediante os resultados, conduzir
eventualmente a uma suspensão ou expulsão.”
“Eu sinto-me responsável por ele, mas ele vampirizou o projecto”,
queixa-se José Manuel Anes, ressalvando no entanto que nem todos os elementos
da loja Mozart estariam implicados nas actividades ilícitas, como o tráfico de
influências.
“Há lá pessoas que conheço bem e que sei que são honestas.” E “a
Maçonaria não deve ser acusada, no seu todo, porque estas coisas não poderiam
acontecer se houvesse transparência no funcionamento de todas as lojas”.
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